Após 67 anos de existência, pela primeira vez a Fiep (Federação das Indústrias do Estado do Paraná) elegeu um presidente do interior do Estado. E ele é do Sudoeste.
Edson Luiz Campagnolo nasceu em Francisco Beltrão dia 8 de outubro de 1959 (cinco dias após sua posse, em Curitiba, irá completar 52 anos). Filho dos pioneiros beltronenses Luiz Campagnolo e Dirce Bigaton, tem um irmão, Júlio César — engenheiro civil que gerencia sua empresa de confecções em Capanema —, e uma irmã, Edna Luíza — que faleceu num acidente de caminhão, junto com seu pai, no ano de 1977, na rodovia que liga Curitiba a São Paulo.
Seus avós maternos, Hermínia Barbieri e Fernando Giácomo Bigaton, pioneiros de Francisco Beltrão, mudaram para Capanema ainda nos anos 50. E foi lá, nas visitas aos avós, que Edson conheceu Sueli Roveda, com quem casou e tem dois filhos: Matheus, de 22 anos, e Thiago, de 18 (vai completar 19 no dia da posse do pai, 3 de outubro).
Desde a infância, Edson conhece Francisco Beltrão, Capanema e o Sudoeste. Mas o Sudoeste começou a conhecê-lo primeiro como empresário, a partir de 1990, ano em que fundou, junto com Sueli, a indústria de confecções Rocamp (Ro de Roveda, sobrenome da esposa, e Camp de Campagnolo, seu sobrenome; a Rocamp tem hoje mais de 300 funcionários em suas unidades de Capanema, Planalto, Santo Antônio do Sudoeste e Itaipulândia e produz mais de 30 mil peças de roupas por mês). Por exercer funções públicas, Edson tornou-se conhecido, na região, a partir de 1995, ano em que foi eleito presidente da Associação Comercial e Empresarial de Capanema. Em 1996 foi eleito presidente da Coordenadoria das Associações Empresariais do Sudoeste (Cacispar), período em que ajudou a liderar o movimento Alerta Sudoeste. Ainda foi secretário de Indústria e Comércio do município de Capanema e vice-presidente da Federação das Associações Comerciais do Paraná (Faciap). De 2002 a 2007 presidiu o Sindicato das Indústrias do Sudoeste do Paraná (Sinvespar). Em 2003, assumiu como vice-presidente da Fiep, cargo para o qual foi reeleito em 2007. E dia 27 de julho de 2011, elegeu-se presidente da Fiep, derrotando o ex-deputado Ricardo Barros por 69 a 21 votos.
No Sudoeste, Edson passou a ser conhecido em 1995, mas seu envolvimento em movimentos sociais é bem mais antigo, começou em Curitiba e uma outra cidade distante que ele morou, Lucas do Rio Verde, no Mato Grosso. Foi pioneiro lá. Ele dá mais detalhes sobre sua vida de sucessos — mas também de desafios e surpresas nem sempre agradáveis — nesta entrevista que concedeu ao Jornal de Beltrão, nestasemana em Beltrão, acompanhado da esposa Sueli, que também participou. Segue a primeira parte.
JdeB - Nós queremos saber como surgiu essa liderança. Nasceu em Francisco Beltrão?
Edson - É, eu nasci em Francisco Beltrão, em 1959, nasci aqui na Rua Rio de Janeiro (atual Avenida Antônio de Paiva Cantelmo) com a Ponta Grossa. O Antônio de Paiva Cantelmo morava na frente da minha casa, depois tinha o seu João Pessoa, que era o barbeiro, ali na esquina um dentista, não lembro o nome dele, na esquina de lá tinha o seu Matias Faust e na esquina à direita o Zanchet, e logo do lado o dr. Aryzone. Eu me criei na rua, brincando, correndo por ali, só que em 69 meu pai decidiu morar em Curitiba, pra que nós, os três filhos, pudéssemos ter uma oportunidade de estudar. Meu pai, infelizmente meu avô não deixou que ele fizesse, ele queria fazer faculdade, queria ser farmacêutico. Por sinal, fugiu uma vez, junto com um tio, dr. Avelino Campagnolo, lá de Toledo, eram primos, e meu pai queria estudar pra ser farmacêutico. E meu avô trouxe ele pra casa abaixo de cinta, disse que filho dele não ia estudar, o filho dele tinha que trabalhar, e deu de presente um caminhão, que inclusive puxava bebidas aqui pro nosso depósito de bebidas Campagnolo.
JdeB - Seu pai tinha depósito de bebidas aqui?
Edson - Era sócio do Comércio de Bebidas Campagnolo, que tinha engarrafamento de refrigerante, cachaça mesmo, era revendedor da Antarctica. Mas meu pai saiu da sociedade e preferiu ficar só como motorista, trabalhou na Cattani, depois, ele achou melhor morar em Curitiba, a gente podia estudar e ele continuou trabalhando na região de motorista. Só que uma fatalidade, esse presente do meu avô acabou ceifando a vida de meu pai, meu pai morreu em 77 de acidente de caminhão. Eu também perdi uma irmã, e minha mãe e meu irmão estavam junto, Deus me livrou dois e levou dois.
JdeB - Sua mãe e seu irmão estavam juntos?
Edson - A minha mãe e meu irmão estavam junto e só se machucaram. Foi uma fatalidade, ele estava voltando de São Paulo, puxava geladeira da Prosdócimo, aquelas carretas compridas, tava retornando vazia e tava chovendo, e tinha caído uns fios de alta tensão da light, formou-se uma fila e não deu tempo de sinalizar, bateu atrás. Meu pai morreu na hora, minha irmã, um dia depois. Mas Deus nos reserva certas... nosso destino, ele é preparado pelo Senhor, né. E com 17 anos eu fiquei órfão, mas também serviu pra eu crescer, até as pessoas perguntam pra mim "de onde que vem essa raiz empreendedora?". Meu avô tá nos anais do histórico, ele foi um dos primeiros comerciantes de Francisco Beltrão, o seu Fernando Giácomo Bigaton, que depois foi o Supermercado Estrela, naquela esquina da Júlio Assis Cavalheiro com...
JdeB - Na Antonina com a Júlio Assis.
Edson - Isso. Meu avô Fernando Giácomo Bigaton, eu tenho umas fotos guardadas que mostram o estabelecimento, mostram a ponte do Rio Marrecas coberta. Na realidade eu tenho essa vertente empreendedora, acho que isso também tem um pouco de trazer do sangue dos meus avós, paterno e materno. Mas nós fomos morar em Curitiba e com 17 anos eu perdi o pai, aí trabalhava no Bamerindus, e tive vontade de ir pro Mato Grosso, com 18 anos e meio, aproximadamente, fiquei lá seis meses, voltei e abri uma malharia e praticamente há 36 anos que tô nesse segmento de confecção.
JdeB - E como que de Curitiba foi parar em Capanema?
Edson - Pois é, aí já a história da minha mãe, meu avô Fernando Bigaton, pai da minha mãe, morava em Capanema. Eles tinham um comércio e um posto de gasolina, um posto que foi aberto pelos irmãos Irineu e Toninho Montemezzo, o Posto Camboatá, em Beltrão, e o Posto São Cristovão, em Capanema, e meu pai e meu avô compraram o posto, e eu com seis meses de idade fui morar em Capanema. Meus pais casaram aqui. Eles só ficaram três meses, porque minha mãe não se acostumou, voltamos pra Beltrão aqui nessa casa, na Ponta Grossa com a Rio de Janeiro, que já era a casa da família, e fiquei até os 9 anos de idade em Beltrão, meu avô continuou, a família continuou. Minha esposa é vizinha do meu avô, nós nos conhecemos com 14 anos de idade, e ela foi fazer faculdade em Florianópolis (Educação Física). Ficamos oito anos sem nos ver. E um belo dia nós nos cruzamos, no dia 1° de abril (risos), uma Páscoa, Sexta-Feira Santa, nós nos encontramos e namoramos um ano e meio e casamos, em Capanema. Eu morava em Curitiba e ela morava em Capanema.
JdeB - A Sueli formou-se em Educação Física, e o Edson?
Edson - Eu não fiz, eu não tenho curso superior. Justamente com 17 anos, quando eu perdi meu pai, eu estava fazendo cursinho pra me preparar pra fazer faculdade.
JdeB - E a intenção era fazer o quê?
Edson - Odontologia, queria ser dentista (risos). Eu cheguei fazer vestibular, mas daí não deu porque realmente a situação econômica não permitiu. E eu abri a malharia, deixa eu voltar pro caso dela. Eu morava em Curitiba e nós nos reencontramos em Capanema, namoramos um ano e meio e casamos, temos 27 de casados e 28 anos e meio de convivência. Em Curitiba eu tive malharia, comecei viajar, percorri o Paraná inteiro pra caixeiro viajante mesmo. Minha mãe fazia a produção e eu cuidava do comercial. Aí quando nós casamos, voltamos para o Mato Grosso, Lucas do Rio Verde. Isso foi em 84. E lá ela (a esposa) passou num concurso pelo Estado e dava aula em um colégio. E Lucas do Rio Verde estava começando e nós fomos pioneiros lá, tanto é que foi a primeira loja de móveis na cidade, tinha o mercado, tinha a rodoviária, tinha meia dúzia de casas. E ali eu já começava me envolver com essas questões de reivindicações pontuais de crescimento local, na época ali pertencia ao Incra, nós não tínhamos nem luz, nem água, tinha um posto telefônico, um PS. E aí a gente já reivindicava, a gente se envolvia nos movimentos. Lucas do Rio Verde pertencia a Diamantino.
JdeB - Nem era município?
Edson - Nem era município. Diamantino é um município maior, quase metade do Paraná, praticamente. E a gente ia reivindicar, porque precisava de prefeitura, estrada, infraestrutura. E eu lembro que, numa dessas visitas, o prefeito de lá, Darci da Silva, me convidou pra ser subprefeito (risos e mais risos), aquela época era subprefeito. Aí eu disse "não, não tenho tempo, tal" (risos) e me esquivei. Política em si sempre me atraiu, política partidária não. E a gente reivindicou, fomos pra Cuiabá, a Brasília reivindicar à União, na época não tinha energia elétrica, só tinha energia de motores em Sinop e Sorriso, Lucas do Rio Verde não tinha luz. Então, a gente teve muitas lutas de reivindicar, na época o asfalto tava sendo construído, felizmente. Mas eu sempre me envolvi em movimentos sociais, a gente sempre se envolveu em questões locais, creches, questões de Apae. Lá em Lucas do Rio Verde não tinha, era uma cidade que tava começando. Mas também quis a fatalidade que a Sueli ficou grávida e nessa gravidez os recursos de medicina, na época, eram escassos, e a Sueli ficou grávida e o nosso médico era em Sinop, e na época do carnaval a gente foi fazer um pré-natal, já nos dias de ganhar, e o médico tinha que viajar, ia passar o carnaval não sei aonde, e ele disse que na volta ia fazer o parto, só que nós perdemos a filha.
JdeB - Perderam uma filha, seria a primeira?
Edson - Perdemos uma filha. Primeira filha. Lá em Sorriso, na verdade. Perdeu no parto, e até ela teve risco de vida, porque a Sueli teve pré-eclâmpsia, tinha pressão alta. E depois duas gravidezes mal sucedidas e aquilo foi decepcionando, porque nós queríamos ter filhos, a gente pensou em adotar, mas eu fiquei preocupado de não transmitir o amor que a gente queria pra um filho adotivo, acho bonito esse gesto, mas não tava preparado. E aí surgiu uma oportunidade de fazer um tratamento aqui no Sul, a família já era daqui, a gente resolveu fazer e optamos por vir embora.
JdeB - Voltaram pra Curitiba ou pra Capanema?
Edson - Voltamos pra Cascavel, e queríamos estabelecer residência em Cascavel. Fui tomado de assalto no centro de Cascavel (risos).
JdeB - O velho oeste não é fácil (risos).
Edson - Loucura (risos). Fui tomado de assalto no centro de Cascavel, me levaram o carro, os caras tavam me levando junto, tavam em três pessoas. É, foi um sequestro, inclusive, eles entraram em uma rodovia vicinal no sentido Foz do Iguaçu, perto de Santa Tereza, e os caras disseram "vamô matá ele".
Sueli - Eles tavam com o rosto descoberto.
Edson - É, eles tavam com o rosto descoberto, em momento algum quiseram esconder o rosto, e ali eu nasci de novo, inclusive, ali é o início da minha conversão, não que eu não acreditasse em Deus, acho que Deus me livrou porque tinha um propósito maior. E aí resolvemos ir pra Curitiba.
Sueli - Eu já estava grávida.
Edson - Ela estava grávida do Matheus. E eu tomado de assalto nem podia ligar pra ela, imagine depois de tanta luta pra ter um filho, então não quis nem assustar ela. E aí, graças a Deus, fui livrado, peguei carona de noite já, dia 13 de maio de 1988. E, diante desse quadro, alguém deu sinal "não é pra ficar aqui também". Aí minha mãe, ela tava comigo no Mato Grosso, e ela voltou pra Curitiba. Com o que a gente vendeu do nosso patrimônio ela comprou uma malharia em Curitiba, e meu irmão tava fazendo engenharia civil em Ponta Grossa, e ele disse "não, Edson, venha pra Curitiba, vamos tocar a malharia de novo, a gente já tinha, tal". Minha mãe fez a proposta e fomos pra Curitiba, reabrimos a malharia. Aí ficamos.
JdeB - Aí nasceu?
Sueli - Nasceu o Matheus em Curitiba.
Edson - Só que de novo, ela tava de sete meses e o nosso apartamento foi arrombado (risos). Não, dá um filme. Nosso apartamento foi arrombado, ela tinha pressão alta, subiu, ela ficou uma semana internada pra segurar o filho, o médico dando injeção pra amadurecer o pulmão. Aí ganhamos o Matheus em janeiro de 89. Aí estávamos trabalhando, tocando e aí veio o plano da Zélia (Cardoso de Mello, ministra da Economia do presidente Collor) e confiscou o dinheiro, só que naquele dia eu tava com muito dinheiro em casa, porque um amigo tinha mercado em Lucas do Rio Verde, e eu trabalhava na malharia e fazia compras pra ele, pra abastecer o mercado dele, lá na Ceasa, eu comprava com meu cheque e pagava, depois ele mandava dinheiro, eu ia lá, resgatava o cheque e pagava, e no dia que todo mundo tinha 50 reais eu tinha 20 mil em casa (risos).
JdeB - Que sorte. E não foi assaltado (risos).
Edson - Graças a Deus (risos). E eu tinha daí aquela questão da tablita, era taplita que tinha, né, cruzeiros reais? Daí, como eu tinha negócios, dívidas em uma moeda e na outra que tava valorizado, eu praticamente dobrei esse dinheiro. Aí, a gente tava em casa numa boa e tal, e meu irmão fazia faculdade, disse "não, vamos continuar assim", embora a Sueli não tava contente em Curitiba, porque ela não tinha, tô sendo bem sincero, tá gravando, uma questão de entrosamento com a minha mãe, elas não se entendiam.
Sueli - Sei lá por que...
Edson - A Sueli estava insatisfeita. E meu irmão tava fazendo faculdade e bem naqueles dias eu tava com um pedido bom, uns pedidos que eu tinha feito no Mato Grosso do Sul, pra ser despachados, e acreditem, mais uma fatalidade, não foi nem arrombado, entraram na casa da minha mãe.
Sueli - A faxineira tava fazendo faxina na casa da minha sogra, onde era a malharia na garagem, ela deixou o portão aberto, o cara entrou...
Edson - Tinha caixas prontas pra despachar, um bom dinheiro, e levaram embora de novo.
JdeB - Caixa de quê?
Edson - De roupa! Levaram embora todas as caixas, três pedidos, levaram embora (risos). Meu Deus, que coisa, né. Aí eu disse "não, nós vamos então", a Sueli disse "Edson, vamos abrir a malharia em Capanema?".
Sueli - Aí eu ficava muito em Capanema, porque o Matheus nasceu prematuro e ele precisava de muita atenção, tinha que mamar de hora em hora, o fígado dele também não tava crescendo como deveria, o Matheus precisava de atenção 24 horas, e eu vinha pra mãe aqui em Capanema, onde eu dormia um pouco, eu conseguia descansar e minha mãe me chamava de hora em hora pra atender o Matheus.
Edson - E eu vinha trabalhar, eu ia fazer vendas na região.
Sueli - O Edson me trazia, daí nós dois ficávamos aqui. Nós não tinha nem carro, meu pai emprestou um fusca pra nós, e o Edson fazia as vendas com o fusca do meu pai, e eu ficava aqui com o Matheus. Daí eu falei "eu não quero mais voltar pra Curitiba, eu quero criar meu filho aqui".
Fonte: Cacispar